quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

em um lugar qualquer, livre



Eu sempre curti muito aqueles "velhos" posts deste blog que misturavam tudo numa grande salada de informações. E por isso resolvi ser mais contemporânea nesse post. Ao invés de remoer pensamentos, ficar naquela vibe filosofal, resolvi falar do agora e do que está por vir... Porque no final, não é o presente e o futuro que nos restam?? Então falemos do bom e velho cotidiano...

Aliás, o cotidiano da blogueira anda em ritmo de montanha-russa. Mas para os leitores mais pervertidos, não significa esbórnia e sacanagem. Como sou chique, diria que está uma agitação cultural muito grande...

Entre vontade zero de ficar em casa, uma inquietude de idéias, divagações e pensamentos, resolvi tornar isso produtivo com esse testículo (risos). E tudo isso culpa do meu momento astral, que anda com vênus ou urânio ou a lua em gêmeos... Indecisão, vontade de estar em três lugares ao mesmo tempo... Afff, que angústRia!! hahahahaha

Dentro desse quadro desorientado, onde a pessoa fica altamente sem foco para fazer os pequenos trabalhos diários, estive pensando muito nessas auto-cobranças e mania de perfeição que jogamos em cima de nós mesmos, em doses diárias, quase como um grande chicote invisível de auto-punição. E pior do que a auto-punição é ver o quanto dessa exigência toda muitas vezes nem é para agradar a nós mesmos. Ela é quase sempre pra agradar o outro. O que será que vão pensar? Será que fulano ficou chateado? Será que fiz a escolha certa? Será, será, será? E eu digo: "Foda-se"!

O foda-se seria uma maneira verbal clara o suficiente para compreender que todos esses questionamentos devem cair por terra. É melhor mesmo, nesses casos, ser desprendido. Até porque o ser humano é muito difícil de ser agradado. E nós não temos culpa. Somos só assim, imperfeitos. Que bom!

Com esse clima "me aceitei", "sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim", foi possível determinar melhor pequenas escolhas diárias, ter mais carinho e paciência comigo e com as pessoas... Afinal, todos nós temos nossas fases, grilos, questionamentos. Não há nada de mais humano nisso!

Aí fui ver o filme novo da Sofia Copolla, "Um lugar qualquer"... Eu curti, bonitinho, contemplativo, melancólico (todo mundo sabe que curto ver filmes assim). Mas o que mais curti foi a atriz mirim Elle Fanning. Adorei o jeitinho da personagem, com suas rotinas simples e fofas, que mudam a vida de um pai que está simplesmente entediado com sua vida hollywoodiana vazia. E tem uma cena lindíssima, em que eles tomam chá imaginário no fundo da piscina, e toca uma música linda do Strokes, que postei em vídeo. Nem preciso dizer que saí do cinema correndo pra catar a música...

"Ten decisions shape your life
You'll be aware of five about
Seven ways to go to school
Either you're noticed or left out
Seven ways to get ahead
Seven reasons to drop by"

O nome da música é "I'll try anything once" (Eu tentarei qualquer coisa pelo menos uma vez). E acho que esse é o espírito... Experimentar mais e pensar menos se fizemos escolhas certas, se teremos apoio, se seremos compreendidos. Uma pessoa especial sempre me diz: "existe um preço que se paga por ser igual, e um outro maior por ser diferente". Aceitando o preço e nossa natureza, parece que passa a ser irrelevante alguns verbos: "aprovar", "reconhecer", "adaptar", "moldar", "conceder"...

E nesse espírito, transcrevo um poema que fiz no ápice do momento foda-se... Mas sem ressentimentos, pessoal. É só sinceridade, doa a quem doer... E desaprovem se quiserem, já não importa mais tanto assim pra mim...


***

no concessions will be made 

está aberta a temporada da não-concessão:
"você poderia?"
poderia, mas não quero.
desculpa, não estamos abrindo concessões.

"já que você..."
e já que você deu a idéia, faça você mesmo.
i'm sorry, não estamos abrindo concessões.

"você é tão boa nisso..."
obrigada pelo reconhecimento, mas hoje não quero ser boazinha.
lamento... não estamos abrindo concessões.

"preciso tanto da sua ajuda..."
ok, compreendo. mas faz tempo que não recebo a sua...
mais uma vez, sem concessões.

"pode ser mais tarde? durante a semana?"
quem sabe, né? mas, sinceramente, pode ser que até lá me canse de esperar.
porque me falta paciência...
vamos ver, mas vai ser por querer e não por conceder.

antes, concedendo, me senti perdendo tempo.
e como não acredito na benevolência do "não quero nada em troca",
faço uma aposta que na observância, estou dando mais do que recebendo.
e nesse momento a balança está em desequilíbrio,
pendendo muito mais pra um egocentrismo.

entre mim e vocês, fico com todos.
mas também quero comer um pedaço do bolo.
migalhas não tem saciado minha fome.
portanto, me conceda.
senão, daqui pra frente vai ser sem concessão.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

entre o peso e a leveza


Este blog é um engraçado fenômeno. Apesar de pouquíssimo divulgado, vez ou outra, descubro leitores avulsos que me dão percepções distintas das minhas reflexões.

Sei que os últimos textos foram muito miscelânecos: poemas antigos e novos, desenhos, pensamentos profundos e, até mesmo correndo alguns riscos, fazendo o primeiro haikai. Enfim, um pouco de tudo mesmo!!

Alguém me disse que tinha algo de denso (ou como diria minha prima, "demço", do linguajar internético). Mas não são assim os diários? Aliás, essa coisa do texto mais pesado e reflexivo, não se enganem, não significa que o autor vive pelos cantos murmurando sobre a vida... Mas é porque acho que a escrita já parte do pressuposto de certo intimismo das idéias, aquele lugar onde você se refugia e toma fôlego pra discutir coisas que só vem a mente em momentos mais solitários e contemplativos. É algo que transborda no papel, para que alguns pensamentos soltos caiam no mundo, e assim o blogueiro fica mais leve e parte pra novos tópicos, novas idéias e com novas perspectivas para a vida real, que é feita ali no dia-a-dia.

Não me importo com leituras tristes, melancólicas ou profundas. Aliás, elas exercem certo fascínio sobre mim. É porque prefiro saber, descobrir, pra depois com meu arsenal, de pontos de iluminação na cabeça, chegar ao mais próximo do que se adapta à minha vida, minha trajetória, meus valores. E acho que me coloca em contato com mundos que talvez nunca pudesse conhecer in natura. Minha viagem é e sempre foi pela mente...

E neste papo furado de opção pela profundida ou superficialidade, lembrei muito de um dos meus livros preferidos, "A insustentável leveza do ser", do Milan Kundera. O livro está longe de ser uma leitura suave... Na verdade ele é inquietante, porque nos faz pensar sobre a história e nossa filosofia de vida. Kundera chama o leitor à participar do mesmo questionamento dos personagens, e os transforma ao longo do percurso. Filósofo tcheco brilhante!!!

E fica o trecho::::

"Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos. (das schwerste Gewicht)
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.
Mas na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?
O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sobre ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?" (A insustentável leveza do ser - Milan Kundera)

A blogueira escolheu os dois... :)

p.s. Dessa vez deixei um vídeo de um filmaço!! Lucía e o sexo, de Julio Medem. Vejam!!