quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

entre o amor líquido e o gonzaguiano em 2011



São engraçados os rumos de certas prosas... E é muito frutífero quando se presta atenção nas pessoas e no que elas têm a nos dizer e oferecer.

Nessas duas últimas semanas que antecederam a chegada do novo ano, a vida pareceu se movimentar intensamente. Muitos encontros, muitas celebrações, uma vontade danada de circular pelas ruas saboreando o clima quente e trocando energia com os corações aquecidos.

Nesse turbilhão, esta blogueira que segue no mundo com olhos e ouvidos atentos, duas coisas simbólicas me chamaram atenção. O primeiro foi o presente de aniversário recebido de um amigo: o livro "Amor Líquido", do famoso sociólogo Bauman. O segundo foi uma observação de um amigo que vasculhava alguns dos meus DVDs musicais: a paixão pela obra de Gonzaguinha.

Os eventos desconexos se uniram na minha cabeça. Lendo algumas páginas do livro de Bauman, uma constatação muito triste. Recebi o livro de presente por ser considerada uma pessoa muito amorosa... Mas o livro me mostrou uma porção frívola que existe em mim mesma - e em você também, caro leitor - de que até o amor entrou na era da fluidez da modernidade. Nesta vida acelerada e capitalizada, onde só aceitamos coisas prontas, acabadas e perfeitas, o amor está virando como uma ação do mercado. É instável demais, por isso muitos não vêem como um bom investimento. Portanto, devemos vendê-lo e comprar novas ações, antes que elas caduquem e não sejam lucrativas.

Meu choque de reconhecimento em alguns trechos não foi por conta desta terrível racionalização, e eu diria banalização, de um sentimento que sempre foi tratado pelos grandes poetas como o mais nobre dos sentimentos. Mas foi de compreender que a vida está acelerada mesmo, e que hoje em dia ninguém aceita as pessoas com seus defeitos de fábrica, e que portanto estamos fadados a circular por aí sem nos conectar de forma mais humana e profunda. E que se não estivermos atentos e se não exercermos nossa porção personalista, podemos nos olhar um dia no espelho e percebermos que aceitamos nos adaptar.

O realismo de Bauman, de verdade, é um soco no estômago para os mais sonhadores. E é impossível ler as páginas de seu livro sem sentir certo espanto. Mas como de boba a blogueira não tem nada, resolvi continuar prestando atenção em outras coisas para relativizar. Grande Einstein, um beijo pra você!!!

E a relativização veio com Gonzaguinha... Depois do comentário amigo, resolvi colocar pra girar o DVD do Programa Ensaio, que fazia uns 10 meses que não escutava. E foi bom ouvir a frase esclarecedora e esperançosa do compositor: "Eu sou um sonhador. Eu acredito muito nas pessoas. E tenho muita paciência comigo". Bingo!!

É isso... Pensando na virada do ano, no início de um novo ciclo, sempre projetamos aquilo que pensamos ser o melhor dos mundos para nossas vidas, as vidas dos que nos cercam e para a saúde do planeta. Eu ainda acredito na máxima de John Lennon de dar à paz uma chance e de que tudo que precisamos é amor. Peace and Love. Não precisa ser hippie, é só acreditar nas pessoas, como sempre fez Gonzaguinha.

Nos rumos em que seremos jogados ao longo do próximo ano, podemos sempre optar pelo amor. É claro que a vida acelerada e cheia de compromissos vai ser sempre o diabinho que vai querer nos transformar em pessoas intolerantes com os outros e nossas relações. Essa modernidade líquida vai sempre nos instigar a valorizar e desejar coisas que não precisamos ter, a acreditar em modelos de pessoas que não são reais... Até nos fazer vagar pelo mundo individualizados, incompletos e sozinhos. Mas se tivermos muita paciência com nós mesmos e com as pessoas, o verdadeiro sentido da palavra amor triunfará!

Entre o amor líquido e o gonzaguiano, fico com o último. E deixo pra vocês o meu voto de confiança.

E pra fechar esse último post do ano, repito mais uma vez que espero sempre tudo de melhor pra todos aqueles que têm vaga cativa no meu coração. Amigos, família, pessoas interessantes que cruzaram pela minha vida, todos vocês que de alguma forma trocaram comigo em 2010, só posso dizer que a jornada foi incrível, que aprendi muito e que fui muito feliz. E em 2011 o plano é continuar pelo mesmo caminho de felicidade e semear muito amor!!!

Um beijo no coração!!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

feng shui dos escritos



A blogueira decidiu tirar a poeira dos escritos guardados.
Fora de contexto ou não, por serem resquícios de memória, publicar e deixar circular pode sempre ser de serventia para algum internauta perdido.
E o vídeo com cenas do maravilhoso filme "Terra Estrangeira" (1995), de Walter Salles, embalado pela versão de "Vapor Barato", de 1971, do álbum Fa-Tal, de Gal Costa, é pra abrilhantar mais ainda o post. Uma delícia!

***

o tempo que congela o momento
é um tempo que pede por esquecimento
mas que também clama por paciência


***

apatia

faço um pacto contigo
mudo meu mundo
embarco no seu navio
passo pelas intempéries
caminho junto, ao seu lado

naquele abraço em que desabas no choro
minhas lágrimas caem contigo
esqueço orgulho e engulo mágoas
me dispo da vaidade
e pra você sou toda verdade

na tua ausência
meu desafio é estar contigo
e na tua presença
recolho qualquer resquício de egocentrismo

pelo que sinto, pelo que desejo
vou me doando até a última gota

mas abro os olhos quando percebo
que no seu desejo há algo de egoísta
um falso altruísta
que só se sacia com suas pequenas vontades

e o precipício vem quando o tempo inflama
porque às vezes é necessário te chamar pra luta

e num mar de expectativas
você sempre vacila
e sempre me engana
pois penso que em ti
ainda há um pouco de gana

mas com o tempo
e seus muitos silêncios
encaro com dor sua apatia
e já sem forças...
confesso que cansei.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

questão biológica



Ai, que saudade dos tempos de adolescente!!!
E quando a saudade bate é inevitável o resgate de fotos antigas, cartas amassadas e pequenos escritos.
O papelzinho mal ajambrado veio diretamente do ano 2000, ano em que o laboratório onde estagiava ficava no mesmo corredor do laboratório de análises oceanográficas. E por uma pequenina janelinha de vidro, passava com emoção para contemplar meu objeto de desejo...
Saudades biológicas de um tempo que já passou, mas que deixou ainda um frescor nessa sonhadora blogueira.
Enfim, lá vai a transcrição do escrito.

***

questão biológica

confusão de solos
idéais fossilizadas
sorriso concentrado
olhar envergonhado
atitudes controladas
vontade calada
despedida com esperança
coração com insegurança,
mas que mesmo sem promessa de reencontro
não consegue parar de bater.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"you're looking so hardcore"



Há uma vibração no ar que os dias de dependência emocional se dissiparam, ou mesmo, se diluíram pouco a pouco com as boas surpresas e movimentos do cotidiano. E no lugar de lamúrias sobre nosso lugar no mundo, uma positividade em relação aos momentos pulsantes vividos e os que ainda se desenrolam numa cadeia mágica de acontecimentos.

Tom Zé, num Programa Ensaio de 1992, disse algo fundamental para o entendimento de minha maneira de encarar a vida. Falando sobre seus tempos de escola, lembrou-se de quando repetiu de ano, pois passava mais tempo lendo gibis do que estudando as disciplinas formais. E ele veio com a pérola: "Será que é o caso de dizer que eu perdi o ano ou que ganhei o ano?". Porque pra ele, ler as histórias em quadrinho abriram caminhos de seu pensamento para outros questionamentos, novas visões.

E aqui, onde a blogueira se encontra fazendo um saldo do agitado ano de 2010, cabe o mesmo tipo de reflexão feita pelo gênio baiano. Num ano de poucas mudanças em algumas esferas da vida, o tempo que para alguns pode parecer ocioso - milhões de filmes assistidos, inúmeras músicas escutadas, diversos livros lidos, uma enormidade de lugares contemplados e muitos amigos resgatados - seria o caso de dizer que o ano foi perdido pela falta de foco e euforia desta humilde blogueira? Não, não foi. Foi ano ganho!

Às vezes é preciso parar de dourar a pílula de certos questionamentos da vida adulta e deixar a curiosidade despretensiosa nos guiar. E com a despretensão e uma boa dose de relaxamento, as verdadeiras paixões reaparecem e as idéias ganham fôlego para a realização de novos projetos. Planos de fuga criativos que nos direcionam para o que verdadeiramente queremos ser.

O ano foi de verborragia intensa, um let it be de expressões... Tudo o que foi sentido, não foi reprimido, foi dito, escrito, chorado, contado, cantado e exorcizado. Mas nunca, nunca calado!

E essa liberdade de expressão foi vindo num crescente ao longo do ano, a ponto de olhar pra mim mesma  e sorrir com satisfação. Egotrip a parte, o que posso afirmar é que da fase do abalo, da fase da revolta, da fase em crise, da fase flor, eis que a flor-de-lótus ressurge um pouco mais hardcore.

E em minha auto-homenagem, já que dia 9 de dezembro completo 29 primaveras, postei o vídeo da música Let me down slow, dos Rolling Stones. Primeiro, porque adoro a maneira como eles descrevem essa mulher de cabelo tingido, inteligente, de sorriso torcido, que desconcerta e fragiliza Mick Jagger a cada refrão. É isso, uma mulher livre e de atitude... E muito feliz por determinar a parte que lhe é de direito neste latifúndio!

Quem quiser ser navegado, que entre neste barco!

I'll be rocking in the next corner... See ya!

p.s. post dedicado à Edileuza Pimenta. grande amiga, grande conselheira, grande mulher!