segunda-feira, 14 de junho de 2010

"o amor é meu"



No último sábado foi o grande Dia dos Namorados. Uma data significativa para celebrar o amor e a paixão. Ou então uma data para relembrar que às vezes é preciso esquentar as coisas, sair da comodidade do relacionamento e colocar em prática algumas gentilezas e carinhos.

É óbvio que nesse clima "coração vermelho" os solteiros passaram a ser olhados com certa piedade ao longo da data. Como numa sociedade maniqueísta, onde os felizes são os que tem um par e os infelizes são os solteiros que levam uma vida vazia... Mas como no livro "A insustentável leveza do ser", do Milan Kundera, existe sempre mais densidade nas pessoas do que apenas duas idéias opostas, um par dialético.

Tô viajando brabo, gente!!! hahahahaha... Mas esse blog sempre foi um mix de tudo mesmo...

Mas... enfim... Pensando nessa pressão social de se ter um par, de ter que ter um casamento, vida estável, filhos... Vejo que no mundo em que vivemos, nossa felicidade está sempre atrelada a idéia do outro. Mas os sentimentos nobres como o amor são vividos individualmente. Só eu, dentro de mim mesma, posso saber o amor que sinto e o quanto ele faz bem. É claro que existe uma troca, mas o amor é meu... É como numa música que gosto muito, da banda El efecto... Eles conseguiram traduzir que o amor é algo que depende exclusivamente de nós mesmos, porque ele é fruto da nossa idealização...

Sabendo disso, fico feliz demais... Pois se o amor é meu, posso ser solteira e amar muito! Depende de mim amar a vida, meus amigos, minha família... Depende de mim ter uma vida de amor, peito aberto, cabelo ao vento... Depende de mim ver e viver olhando pelas lentes do meu coração... E isso é bom, é fácil e é fantástico, porque melhora muito as coisas...

Outra coisa... Percebo que muitas pessoas hoje em dia procuram um amor com certa angústia (super normal se levarmos em conta o estilo de vida que temos hoje em dia). Mas será que essa busca angustiada gera aquela serenidade e tranquilidade que só um amor inesperado faz com a gente? E se colocamos tanta expectativa, como vamos nos surpreender, se a nossa idealização é tão única, particular e perfeccionista?? Pensem nisso, gente. Às vezes é melhor estar mais desligado, valorizando outras coisas e deixar tudo fluir naturalmente. É como Clarice Lispector cita no trecho abaixo, temos que dar oportunidade ao inesperado...

Deliciem-se com Clarice, e deixem a consciência e o coração serem seus guias!!

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
Clarice Lispector

Um comentário:

  1. Preciso me distrair!!!! Ameiiiii!!!! Clarice é demais mesmo! Abaixo às instituições que criamos a cada dia e aos muros que colocacamos em volta de nós por tentar fazer parte desse mundo moldado. Cada um que construa o seu... Adoreiiii!

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