quinta-feira, 1 de julho de 2010

historiografia de um blog


Já havia mencionado a uma amiga o meu desejo de comemorar o 20º post neste querido blog. Tinha em mente o título: "historiografia de um blog". Mas aí vieram outras idéias sobre amor e distração que acabaram fluindo melhor.

Confesso que gostei do título e tornei a pensar sobre ele quase como uma idéia fixa. Explico, sempre! Nós historiadores estamos acostumados com o conceito da palavra historiografia. Só que somos um grupo fechado e cheio de jargões e, é claro, nem todos os leitores até este momento precisariam compartilhar o conhecimento do termo.

A história seria a interpretação dos eventos sociais ocorridos ao longo dos tempos nas diferentes civilizações que ocuparam  este planeta. Este observador e intérprete, entretanto, se situa em uma cultura e numa noção de tempo de sua época (sua época vivida, geração, etc.). Logo, com o passar dos anos (muitos, eu diria), nós historiadores começamos a questionar a neutralidade de nossos antepassados ao narrar certos eventos, pois a observação à distância permitia que encontrássemos discursos e tendências de pensamentos carregados de conceitos de seu momento histórico.

Parece complicado, mas é simples. A historiografia é a crítica da própria história. É como se estivéssemos colocando mais uma lente sobre os escritos. Esmiuçando as entrelinhas. Uma coisa aparentemente obsessiva, mas que é muito importante para relativizar interpretações e pretensas "verdades absolutas".

Aí pensei no blog, famoso por democratizar os diários de milhões de usuários da internet. Um espaço que nasceu do desejo de se criar um perfil individualizado de seus donos. Um espaço aberto para a inscrição e circulação de idéias, pensamentos, devaneios. Um espaço de preferências, de recortes, de diversidade.

O blog é exposição, mas antes de tudo é circulação! Eu mesma pensei muito antes de fazer um. Minhas questões eram: "será que vou me expor demais?", "será que alguém vai ler, compartilhar?". Meio paradoxal, mas enfim...

A verdade é que num mundo onde os espaços institucionalizados abrem tão poucas portas para as pessoas se expressarem e fazer com que sua expressão circule, a internet virou a "Shangrilá" daqueles que tem algo a dizer.

Assistindo ao filme "Julie & Julia" refleti sobre essas questões. A burocrata pós-moderna Julie, com todo o fardo de seu dia-a-dia de trabalho e sua frustração de escritora mal-sucedida, só se sente bem ao cozinhar e assistir os programas de culinária de Julia (uma senhorinha simpática que sabe TUDO da culinária francesa). É então que ela se lança num desafio de cozinhar mais de 500 receitas de um livro de culinária de Julia num prazo de um ano, postando suas experiências num blog.

O blog inicia tímido, despretencioso, mas Julia se entrega ao blog. Ela se envolve em sua própria experiência e derrama com veracidade um pouco de si e de sua história.

É assim que analiso um pouco da experiência de "Um pouco de tudo"... Um espaço que nasceu para compartilhar muitos de meus pensamentos e indagações... Um espaço quase idílico onde poderia registrar algumas experiências e gostos extra trabalho burocrático, extra historiadora, extra qualquer coisa modelar e limitante. Aqui, para mim, seria o "pode tudo". E eu pude exprimir tudo! E ainda pretendo fazer mais. Até porque, da despretensão, outro dia me vi pegando um dicionário de filosofia para ler o conceito "amizade" (não encontrei, para minha frustração...), me vi sacando uma caderneta de bolso dentro da sessão de cinema para anotar uma frase... Ou seja, umas atitudes meio malucas, impensadas, mas que refletem como caí de amores por isso aqui.

Aos poucos, mas seletíssimos amigos que acompanham essa pequena extensão do meu ser, agradeço pela companhia, pelos comentários incentivadores, pelas críticas e por estarem sempre comigo me dando material para minhas "histórias". Vocês são um pouco disso tudo!

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