quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

entre o peso e a leveza


Este blog é um engraçado fenômeno. Apesar de pouquíssimo divulgado, vez ou outra, descubro leitores avulsos que me dão percepções distintas das minhas reflexões.

Sei que os últimos textos foram muito miscelânecos: poemas antigos e novos, desenhos, pensamentos profundos e, até mesmo correndo alguns riscos, fazendo o primeiro haikai. Enfim, um pouco de tudo mesmo!!

Alguém me disse que tinha algo de denso (ou como diria minha prima, "demço", do linguajar internético). Mas não são assim os diários? Aliás, essa coisa do texto mais pesado e reflexivo, não se enganem, não significa que o autor vive pelos cantos murmurando sobre a vida... Mas é porque acho que a escrita já parte do pressuposto de certo intimismo das idéias, aquele lugar onde você se refugia e toma fôlego pra discutir coisas que só vem a mente em momentos mais solitários e contemplativos. É algo que transborda no papel, para que alguns pensamentos soltos caiam no mundo, e assim o blogueiro fica mais leve e parte pra novos tópicos, novas idéias e com novas perspectivas para a vida real, que é feita ali no dia-a-dia.

Não me importo com leituras tristes, melancólicas ou profundas. Aliás, elas exercem certo fascínio sobre mim. É porque prefiro saber, descobrir, pra depois com meu arsenal, de pontos de iluminação na cabeça, chegar ao mais próximo do que se adapta à minha vida, minha trajetória, meus valores. E acho que me coloca em contato com mundos que talvez nunca pudesse conhecer in natura. Minha viagem é e sempre foi pela mente...

E neste papo furado de opção pela profundida ou superficialidade, lembrei muito de um dos meus livros preferidos, "A insustentável leveza do ser", do Milan Kundera. O livro está longe de ser uma leitura suave... Na verdade ele é inquietante, porque nos faz pensar sobre a história e nossa filosofia de vida. Kundera chama o leitor à participar do mesmo questionamento dos personagens, e os transforma ao longo do percurso. Filósofo tcheco brilhante!!!

E fica o trecho::::

"Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Que idéia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que fazia com que Nietzsche dissesse que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos. (das schwerste Gewicht)
Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza.
Mas na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?
O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sobre ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes.
Então, o que escolher? O peso ou a leveza?" (A insustentável leveza do ser - Milan Kundera)

A blogueira escolheu os dois... :)

p.s. Dessa vez deixei um vídeo de um filmaço!! Lucía e o sexo, de Julio Medem. Vejam!!

2 comentários:

  1. E quando o fardo não está no eterno retorno, mas, no contrário, na imposição do tempo linear? O que diria sobre isto a ilustre blogueira??

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  2. Jangada de pedra, a sua pergunta é muito inteligente. Acho que quando o fardo está no tempo presente, rola certa melancolia... Mas um dia se chega ao âmago da questão... E aí sim somos verdadeiramente livres... Porque passamos a enterder as coisas e como funcionamos, verdadeiramente.

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