sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dez mulheres e eu



Um livro lido pode ser uma grande viagem interior. Acredito muito nisto.

Gosto de afirmar que sou uma pessoa de muita sorte pelos encontros que a vida me proporciona. Passam sempre pelo meu caminho pessoas que me deixam algo. E sinto que com isso, deixo algo meu também para elas. Sem forçar, sem planejar, a vida nos coloca diante de trocas muito felizes.

E assim, nestes caminhos da vida, fui parar em Santiago do Chile. E me encantei com a cidade e seu ritmo, com o peso do ar e a arquitetura que me rodeava. Antes de pegar o avião para esta nova aventura, levei dois nomes no meu caderno de viagem. Conheci um amigo de uma amiga, brasileiro, que estava vivendo no Chile. Um presente, foi como definimos o nosso encontro e o início de uma amizade, selada com pisco e muitas conversas em português.

A segunda pessoa vinha da infância. Amiga da minha mãe, chilena, que conviveu conosco nos meus primeiros anos. A memória me pregou uma peça e não me fazia ter lembrança alguma de seu rosto. Mas nos encontramos, e pra mim era como estar em casa, com três anos, brincando com suas filhas e me sentindo feliz e tranquila.

Em meio a tantas conversas, recebi de presente um livro, que segundo ela ia ser muito importante pra mim. Sabia que aquela leitura ia lançar luz sobre algum ponto específico ou, simplesmente, vinha para abrir ainda mais o meu campo de visão sobre o mundo e sobre o material de que sou feita.

Deixo aqui a passagem que mereceu meu grifo.


"A ella le encantaba hablar mal de sí misma y cuenta su historia como si fuera una tragedia, cuando, en el fondo, lo ha pasado tan rebién y su vida es tan envidiable desde todo punto de vista que supongo que lo hace para que le perdonen su propria fortuna. Exagera sus defectos para que no se noten sus talentos. (...) Soy un asco, un asco, dice mirándose al espejo, y el único reflejo que a mí me llega es el de una mujer estupenda, con un precioso pelo rubio grueso y abundante y con piernas largas, largas. Cuando la ayudo a sacarse las botas para depilarse, toco el cuero, parece terciopelo de tan suave y fino. Entonces yo me digo: quiere que la perdone, que la perdone por ser tan inteligente, tan regia, tan amada y más en cima rica, por eso me dice que es un asco.  Pero en vez de envidiarla yo la quiero. Es una persona generosa porque conoce lo privilegiada que es y, sin saber mucho cómo, desea compartir sus privilegios. Todo alrededor de ella tiene algo de etéreo, como si la envolvieran unos tules celestes que la protegen del mal y que hacen que, al encontrárselo, le dé la espalda y se niegue a partir de la jugada. (...) Ustedes dirán por qué mierda yo me identifico con una persona como ella. Es que tenemos la misma vocación para la felicidad." (Marcela Serrano. "Diez Mujeres")

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