quinta-feira, 27 de maio de 2010

"eu quero uma casa no campo"



Hoje passei o dia um tanto quanto "orgânica". Uma vontade de escrever, no sentido primitivo do termo, passando levemente a tinta no papel. É claro que neste momento transcrevo para o computador tudo que foi escrito no papel, mas o que vale é que este escrito foi produzido assim, desta forma natural e rudimentar.

Esse anseio por um contato maior com a natureza se confunde com uma trajetória iniciada há alguns anos. Primeiro veio através de umas reuniões budistas que frequentei por um breve tempo, mas que deixaram ensinamentos valiosos, como entoar o mantra de lótus durante um trajeto Porto Alegre - Rio para diminuir a ansiedade e o cagaço de avião. Depois veio a mística e a força das pedras (sabia que uma ametista na testa pode fazer sumir uma enxaqueca pentelha?), a yoga, os florais (o nome em inglês, segundo um escocês do meu trabalho é "star of benthleen") e, por fim, a meditação. Um coquetel de relaxamento, leveza e paz de espírito. Namastê!

Pra uma pessoa que é simplesmente apaixonada pelos seres humanos, os lugares e as histórias, quando um dos três elementos se torna excessivo, imediatamente recorremos aos outros para buscar o equilíbrio. Veja bem, não é que tenha me cansado das pessoas, pelo contrário... Mas é que nas últimas semanas a sociabilidade intensa me impulsionou para um período de resgate dos outros dois elementos fundamentais do meu ser (é... estou demasiado profunda).

As histórias, por enquanto, estão vindo dos filmes, livros e trilha sonora do momento. Mas queria falar mesmo é de um livro que estou passando minhas noites lendo... É um best seller, vulgo livro de mulherzinha, mas que é surpreendentemente esclarecedor. "Comer, rezar, amar", de Elizabeth Gilbert, é a busca de uma escritora norte-americana pelo auto-conhecimento, que após um período tumultuado de sua vida coloca o "pé na estrada" rumo à Itália, Índia e Indonésia. Eu já viajei com ela pelos prazeres da cozinha italiana, mas agora estamos nos descobrindo juntas num ashram de yoga na Índia.

A sua retomada de si mesma me encantou, porque como escutava nas reuniões do budismo, vejo que minha heroína tenta buscar aquela velha metáfora do rio. Ou seja, a nossa vida, nossa trajetória, seria como o fluxo de um rio. Quando estamos imersos nele não temos controle sobre o que ficou pra trás e nem sabemos os destinos a que nos leva. O que podemos sentir é o fluxo, a correnteza nos levando. E nesse percurso podemos escolher se vamos numa canoa, se nos protegeremos das pedras ou se vamos nos debatendo de um lado para outro desgovernados. Em suma, a nossa vida se faz do momento presente, assim como nossas escolhas. A angústia e o saudosismo só nos deixa mais suspensos das sensações e vibrações cotidianas, nos deixando tresloucados num mundo de pura virtualidade. Uma lástima!

Refletindo sobre tudo isso e meditando muito para acalmar a cabeça e o coração, a paz entra na nossa vida de maneira singela e nos aproxima da mãe Gaya, mãe Terra, mãe natureza. É bucólico e muito lindo!!

Ainda não virei hippie... E não! Não vou morar numa comunidade!! Quero mesmo é deitar na grama, sentir o balançar do meu corpo numa boa rede, andar de contra o vento, abraçar uma árvore, pisar descalça na terra batida e depois mergulhar a cabeça na água gelada de um rio. E depois de tudo isso, caminhar, caminhar e chegar ao topo de uma montanha, sentar por alguns minutos, sentir a grandeza e força do planeta e cantarolar "Pedras rolando", de Beto Guedes. Ele diz: "E para sempre é o que tem de ser / Que nem tambor das pedras rolando / Seja o que for". É isso!! É preciso jogar pro universo!! É preciso parar, ouvir mais, sentir mais e concluir que nada se controla e que tudo deve seguir seu fluxo, naturalmente...

E quando a gente descobre isso, não é que a vida mude do dia pra noite, mas faz a gente pensar mais nas coisas importantes... E de verdade, dá uma vontade danada de se refugiar naquela "casa no campo" que a Elis cantava, onde todas as coisas importantes e verdadeiras se encontravam lá. Por isso, deixo transcrita a letra da música pra vocês logo abaixo. Um abraço apertado e caloroso!!!

Casa no campo - (Zé Rodrix e Tavito)
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza

Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais

Um comentário:

  1. Deixar fluir. Difícil... mas o necessário pra encontrar o bem estar que tanto sonhamos, mas que tanto fugimos com as ansiedades do imediatismo da vida moderna... Vivendo, tentando, errando, acertando, aprendendo...
    Muito assunto para nossos blogs.
    Beijooo

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